20.12.11

Jantar para o Papai Noel

Em sua longa jornada ao redor o mundo, entregando presentes para meninos e meninas bem comportados, o bom velhinho com certeza ficaria feliz se, ao entrar pela chaminé (ou pela janela do seu apartamento, casa, etc...) ele encontra-se algo que o fizesse lembrar-se de sua terra natal, a Lapônia. Até porque, uma viagem global em uma noite, saindo de um frio intenso do outro lado do mundo, aonde o sol nem chega a se por (bom, na verdade acontece, às vezes e à meia noite) e fazendo escalas em paragens tropicais como as nossas, ele deve sentir um pouco com o fuso horário, talvez espirre no México ou sinta calor no Ceará.




O fato é que, como somos um povo acolhedor e cheio de carinho, que sabe agradecer, seria legal surpreender o homem do saco de brinquedos com uma comida típica lá da terra dele. Não custa nada (quer dizer, depende: se você quiser importar carne de Rena e o pão "Rieske", fica por sua conta, literalmente).
Na famosa noite de natal, aquela em que as crianças esperam avidamente por ele (ou pelos presentes?) deixe junto à árvore um pão sem fermento, com leite ou vinho. É uma entrada muito apreciada por quem vive abaixo de zero. Se você preferir colocar uma cerveja gelada, eu acho que ele vai entender, já que o natal aqui não é exatamente nevado e para ele, 20 graus já deve ser um inferno. Eu acho até que ele deve curtir uma praia enquanto passa abaixo da linha do Equador.



Mas, se você, além de ter se comportado bem e obedecido todo mundo, e ajudado velhinhos e feito todo mundo feliz, quiser garantir aquele presente tão esperado, vai precisar se dedicar mais no cardápio.
Entre os pratos de carne, não há dúvida de que a rena é o mais emblemático. Cozida com batatas e servida com legumes. Você pode também se aventurar no "mörgasbord", que é um acepipe de peixe, ou queijo, ou carne com legumes, mas ai é arriscar demais. Eles têm suas preferências, cada região gelada tem a sua receita e você pode acabar ofendendo o paladar secular do Noel.
Os peixes são indispensáveis ​​na cozinha Laponiana. Cozido de qualquer forma, o salmão é o seu principal representante, então, vamos a ele.
Eis a sugestão:
Salmão com purê de batata e aspargos
 
Salmão para uma porção (pensando bem, ele é gordinho, está viajando, reserve quinhentos gramas)
6 unidades de batata cozidas
2 colheres (sopa) de manteiga (na Lapônia eles não conhecem margarina, então, não invente)
100 ml de creme de leite
Sal (lembre-se que ele deve ter por volta de mil anos, portanto, evite exagerar no sal. Você não quer acabar com o natal das crianças, quer?)
Pimenta-do-reino branca
Aspargos fritos na manteiga.
 
Corte o peixe em postas e tempere com sal e a pimenta do reino. Leve ao forno ou grelhe se preferir. Amasse as batatas para um delicioso purê à sua moda e reserve. Faça uma caminha com o purê acompanhando com os aspargos e monte o peixe sobre ele. Regue com creme de leite e sirva num prato branco. Vá para a cama e apague as luzes. Espere ele chegar e ouça o famoso ho-ho-ho na versão "Hummm..."
 
E Feliz natal.

3.11.11

A feijoada de Drummond




Mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade nasceu no dia 31 de Outubro de 1902 e como bom mineiro exaltava a culinária da sua terra, rica em sabores e misturas.
Se estivesse vivo, o escritor Carlos Drummond de Andrade completaria esta semana 109 anos. Para homenageá-lo, o dia 31 de outubro foi batizado como “Dia D”- o “Dia Drummond”. Uma data para celebrar a vida e obra deste importante ícone da poesia brasileira.

Como todo grande poeta sensível ao mundo, Drummond percebeu que a arte de cozinhar tem nas origens a mesma alquimia do fazer poético, boa poesia e boa cozinha se processam intrincadamente ligadas no mesmo canto flutuante da alma. Rubem Alves tinha a mesma certeza quando disse "Escrevo como quem cozinha. Minha cabeça é uma cozinha. O cozinheiro cozinha pensando no prazer que sua arte irá causar naquele que come. Eu escrevo pensando no prazer que o meu texto poderá produzir naquele que me lê."

"É este o secreto desejo de cada escritor: o prazer do leitor."

Um dia, pensando sobre o prazer da feijoada, Drummond escreveu um poema, tentando unir os prazeres da mesa e da leitura poética. Penso que ele sabia, ao ter esta idéia, que cozinhar é um caminho tão fácil para criar felicidade quanto escrever. Seu poema é único e apenas dele, para deleite de quem o lê. Já a feijoada que ele ensina pode ser feita e refeita, para o prazer de quem dela provar.
Deu um pouco de trabalho seguir "ao pé da letra", a receita do poeta, assim como ele deve ter tido ao escrever seus versos, mas o prazer emanado do cheiro, das carnes, da panela dando vida à poesia, apaga todo o cansaço.

Acompanhamos o poema com arroz, laranja e couve refogada, se for uma heresia em Itabira, esperamos que o poeta nos perdoe. Mas ficou maravilhoso!




Feijoada à Mineira
Carlos Drummond de Andrade


Uma velha e perfeita cozinheira a quem pedi a fórmula sagrada
Da feijoada à mineira,
Mandou-ma. Ei-la: “Receita de feijoada –
Tome coisa de um litro de feijão
Preto, novo, sem bicho,
E, depois de catado com capricho,
Jogue no caldeirão.
(Com feijão que não seja preto é à toa
tentar fazer feijoada.
E se teimar, não cuide que sai boa;
Sai não valendo nada.)
Quando estiver o caldeirão fervendo
Ou antes, deite o sal,
As mãos de porco, orelhas e, querendo,
Focinhos e rabo; isto (está claro) tendo,
Porque não tendo é o mesmo, não faz mal.
Se, além desses preparos, deitar nela
Linguiça e mais um osso de presunto,
Só o cheiro da panela
Faz crescer água à boca de um defunto.
Eu já ia me esquecendo (que memória)
Da carne seca e da couve.
Feijoadas sem elas, qual! É a história…
Não há nem nunca houve.
Depois de tudo bem cozido, a ponto,
Machuque bem um pouco do feijão
E pronto.
Mas machuque só a parte que senão,
Em vez de feijoada sai pirão.
Eis, aí está o prato preparado…
Minto: falta ainda o molho
Que embora simples é o segredo o escolho
De muito bom guisado.
O molho faz-se com vinagre, ou então,
(Para sair a coisa mais completa)
com suco de limão
e bastante pimenta malagueta.
Sal, ponha quantum satis.
Não vai ao fogo nem ligeiramente,
Exceto se levar também tomates,
Cebola, ou outro que tal ingrediente.
Co/a feijoada, a clássica, a mineira
É compulsório o uso da farinha.
Como bebida, um trago de caninha.
Há quem regue o vinho; mas é asneira.
Quanto à caninha fala-se
Ou não se fale, a mim é indiferente.
Eu tenho a firme opinião que um cálice
Nenhum mal faz à gente.”
Eis aí a receita.
Publico-a sem responsabilidade.
Experimentem, se sair bem feita
E eu, no dia, estiver nessa cidade…
Não insinuo nada:
Apenas lembro que ninguém rejeita
Convite para almoço de feijoada.

ANDRADE, Carlos Drummond de (org.). Brasil Terra e Alma; Minas Gerais

26.10.11

Primavera no Prato

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.
(Cecília Meireles)


A primavera chegou. Meio desconfiada com esse tempo nublado, mas já se faz sentir no calor, nas primeiras flores e nas roupas leves. Ela vem e faz o pensamento voar. Tomou de maio o título de mês das noivas. As flores estão no auge, como a amenidade do sol de primavera.
Aqui nos trópicos ela nem sempre é reparada. Somente cozinheiros mais atentos aos sabores e poetas sensíveis pressentem sua chegada. Eles reconhecem a verdade escondida nas folhas, nas flores, nos frutos e nas estrelas.
Segundo a lenda, quando o homem foi capaz de reconhecer a primeira verdade, os deuses o presentearam com o nascimento de belas flores, e para marcar esta data especial, aquele momento ficou conhecido como Prima Vera (em latim: Primeira Verdade)
Mais do que embelezar as ruas com flores, essa época também é um banquete para a inspiração culinária. As saladas, as carnes e os drinques ganharam o frescor típico dessa estação.
Os frutos e as verduras estão mais frescos, o romantismo está em alta e porque não aproveitar esse clima macio para preparar uma comida simples, afetiva, colorida e gostosa?
Nós sugerimos um prato que leva no nome e no multicolorido a primavera. Mais que isso: Um prato fácil de fazer e muito gracioso: um suculento Frango Primavera. Delicie-se na primavera, no verão, no inverno…
Para um jantar romântico ou apenas comer bem, vamos precisar de:
600 g de sobrecoxa de frango
1/2 cebola picada
1 cenoura cortada em cubos
1 colher (sopa) de farinha de trigo
Sal a gosto
colheres (sopa) de molho de soja
3 colheres (sopa) de azeite
3 dentes de alho picados
1 lata de ervilha
1 lata de Milho Verde
1/2 xícara (chá) de molho de tomate
Faça assim:
Doure as sobrecoxas em azeite; junte a cebola e o alho e deixe dourar novamente; acrescente molho de tomate e tempere com sal, pimenta preta, louro ou qualquer erva aromática que vier à cabeça ou estiver à mão; acrescente água e deixe cozinhar em fogo baixo até a carne ficar macia. Ajuste os temperos ao seu gosto e junte cenouras cortadas em cubinhos e aguarde por 5 minutos. Junte então milho verde e ervilhas para colorir. Então está pronto. Agora é só juntar salsa fresca e servir.
Para comer sorrindo e brindar a estação mais bonita e charmosa do ano. Deixe florescer a estação na sua cozinha. Como Disse Cecília Meireles, “É certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.”
Receba-a com o colorido e a alegria de um bom prato.